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ANFÍBIOS

Texto e desenhos: Natália Dallagnol Vargas

QUEM SÃO OS ANFÍBIOS?

Os anfíbios, animais pertencentes à classe Amphibia, foram os primeiros vertebrados a colonizar o ambiente terrestre, mas são dependentes do ambiente aquático. São animais que, na sua maioria, nascem na água e depois vão viver na terra. Grande parte dos anfíbios possui ciclo de vida bifásico, passando na água o seu primeiro estágio de vida como uma larva chamada girino e, após seu amadurecimento, vão viver na terra, mas precisam voltar à água para o acasalamento, quando irão se reproduzir. Esta mudança de fases é chamada de metamorfose.

Estes animais são atualmente representados por três grupos distintos:

 

 

O grupo dos anuros (Anura) é composto pelos sapos, rãs e pererecas. Esses animais se caracterizam por apresentarem quatro membros e por não possuírem cauda, sendo por isso chamados de anuros (sem cauda).

Os membros do grupo das salamandras e tritões (Caudata ou Urodela) se caracterizam por possuírem de 2 a 4 membros e uma cauda aparente.

E o grupo das cecílias, também chamadas de cobras-cegas ou minhocões (Gymnophiona ou Apoda), é composto por animais que não apresentam patas, ou seja, são ápodes.

O nome Amphibia significa literalmente “vida dupla”, indicando o hábito do grupo de viver uma parte de suas vidas na água e outra no ambiente terrestre. Os anfíbios são extremamente dependentes de ambientes com água para a reprodução (visto que seus ovos não possuem casca), assim como para manter a umidade do corpo. Por possuírem uma pele permeável, que é necessária para a respiração cutânea (através da pele), eles podem perder água e desidratarem se ficarem muito tempo longe dela. São animais de ectotérmicos, ou seja, dependem do ambiente para variar sua temperatura corporal.

 

A respiração dos girinos é branquial, ou seja, ocorre por brânquias. A maioria dos anfíbios adultos apresenta respiração pulmonar e cutânea, mas algumas espécies, ao longo da evolução, sofreram redução pulmonar e possuem apenas respiração pela pele.

 

Os anfíbios apresentam o corpo dividido em cabeça, tronco e membros e não possuem pescoço; ou seja, a cabeça é ligada diretamente ao corpo.

 

Possuem, normalmente, numerosas glândulas espalhadas pelo corpo. Há as glândulas produtoras de muco, sendo que este mantém a pele úmida e ajuda nas trocas gasosas; e as produtoras de veneno, que se desenvolvem em muitas espécies, principalmente em sapos.

ONDE VIVEM?

Em geral, os anfíbios vivem em pântanos, banhados, lagoas, riachos e lugares úmidos, pois dependem da água para a respiração cutânea e para a reprodução. Há alguns anfíbios que possuem a vida totalmente aquática, enquanto outros habitam lugares úmidos, como florestas. Há também alguns que vivem enterrados em solos úmidos, como as cecílias (ou cobras-cegas) e alguns anuros.

Os girinos, em geral, são comedores de partículas em suspensão. Os anfíbios adultos são predadores e alimentam-se de invertebrados, como insetos, aranhas e minhocas, e, dependendo do tamanho, podem até comer pequenos vertebrados, como roedores.

 

Para a alimentação, a maioria dos anuros projeta a língua, que é longa, para capturar a presa e em seguida a traz de volta para a boca. O alimento é engolido por inteiro, ou seja, é introduzido na boca sem antes ser fragmentado.

 

Dentre os predadores de anfíbios, quando adultos, encontram-se répteis (como serpentes), aves (como graças e corujas) e mamíferos. Os principais predadores dos girinos são os peixes.

O QUE COMEM?

COMO SE LOCOMOVEM?

A locomoção é variada entre os anfíbios. As cecílias rastejam-se, locomovem-se em serpentina, como as cobras. Os caudatas podem caminhar e nadar com auxílio dos membros e da cauda. Os anuros, além de caminharem e nadarem, em sua maioria, saltam. Por isso apresentam pernas traseiras maiores e mais fortes. Os sapos possuem pernas menores e seus saltos percorrem menores distâncias do que os das rãs e das pererecas.

A fecundação normalmente é externa, ou seja, as fêmeas liberam os óvulos e os machos os espermatozoides, ambos na água, para ali fecundarem; este tipo ocorre principalmente nos anuros. Pode também ser interna, ou seja, os espermatozóides são inseridos no interior do corpo da fêmea, onde ocorre a fecundação.

 

O desenvolvimento pode ser tanto direto, sem estágio larval, que ocorre, em geral, nas cecílias, ou indireto, com o estágio larval (girino), que acontece normalmente nos anuros e caudatas. O tempo de desenvolvimento do girino varia com a espécie, podendo levar dias ou meses.

 

A maioria dos anfíbios é ovípara, ou seja, depositam ovos no ambiente. Ocorre também a viviparidade, onde os embriões se desenvolvem dentro do corpo da mãe, que ocorre nos três grupos, e normalmente nas cecílias. Anfíbios podem apresentar cuidado parental.

 

No caso dos anuros, a fêmea é atraída pelo macho por seu canto e vai até ele. No local de encontro, normalmente em lagoas, banhados, poças e riachos, o acasalamento ocorre, geralmente na água. O macho, que não apresenta órgão copulador, coloca-se sobre o dorso da fêmea e a comprime com suas calosidades sexuais dos dedos, ao que chamamos de amplexo sexual ou abraço nupcial. A fêmea expele os óvulos, que são então recobertos por uma grande quantidade de espermatozóides liberada pelos machos. Em algumas espécies, forma-se, então, “cordões gelatinosos” ou “pudins” da espuma branca que contêm os ovos.

 

No Rio Grande do Sul, a época de reprodução dos anuros se dá nos períodos mais quentes do ano e varia de acordo com as espécies.

COMO SE REPRODUZEM?

CICLO DE VIDA E METAMORFOSE

Há diferentes tipos de ciclo entre os anfíbios; alguns, por exemplo, não apresentam metamorfose. Por ser um grupo extremamente diverso, é muito difícil fazer generalizações. O ciclo relatado a seguir, porém, é o mais comum em anuros, que são os anfíbios mais abundantes no Estado do Rio Grande do Sul.

 

Os anuros machos se posicionam em um bom lugar para a reprodução e coaxam para atrair as fêmeas. Quando ela se aproxima, ele a abraça por trás, para fazê-la expulsar os óvulos, e ele deposita os espermatozóides. Os óvulos, muitas vezes, formam uma cobertura gelatinosa, que parece um ninho de espuma. Cada ovo é formado quando um espermatozóide e um óvulo se unem, ocorrendo a fecundação.

 

O embrião se desenvolve dentro do ovo até se transformar em um girino. Quando este está pronto, o ovo eclode e a larva ou girino nada com sua longa cauda; respira o oxigênio dissolvido na água através de brânquias externas situadas nas laterais da cabeça. A larva alimenta-se de algas, protistas e/ou restos de animais. Ela desenvolve suas patas posteriores primeiro e, após o desenvolvimento de suas patas anteriores, as brânquias do girino tornam-se internas e começa a formação dos pulmões. A cauda vai, aos poucos, encurtando, ao ser reabsorvida, até desaparecer no anuro jovem. Nessa etapa, já estão desenvolvidos os pulmões, o coração e um intestino adaptado a sua dieta carnívora. É neste momento que ele sai da água e passa a viver no ambiente terrestre. O anuro cresce até atingir a maturidade, quando está pronto para se reproduzir e recomeçar o ciclo.

Os anuros, ou seja, sapos, rãs e pererecas, são os únicos anfíbios que conseguem coaxar. Coaxo é o nome dado para o canto destes animais. As fêmeas emitem sons mais fracos, enquanto os machos possuem um canto alto, que é importante para atrair as fêmeas na época de reprodução, o canto nupcial, muito importante para a reprodução. Estes possuem uma estrutura na região gular chamada de saco vocal, que se expande e se comprime produzindo o som.

 

O canto é específico em cada espécie, o que permite a sua identificação apenas escutando seu coaxo, sem a necessidade de visualização dos animais. Quanto maior o anuro, mais grave é sua voz. Há vários tipos de cantos nos anuros, porém o principal é o canto nupcial. O canto da chuva, que é utilizado ao ocorrer mudanças climáticas que antecedem à chuva, também é bastante comum.

 

No total, há sete tipos de cantos, sendo eles: o canto nupcial (produzido, normalmente, apenas pelo macho no período de reprodução), o canto da separação (quando um macho abraça equivocadamente outro e este último produz sons), o canto da chuva (canto emitido por algumas espécies quando há mudanças climáticas que indicam a aproximação de chuva), o grito da angústia (produzido por alguns quando são capturados por predadores ou pelo homem), grito agressivo (grito constatado por algumas espécies agressivas, como, por exemplo, o Ceratophrys ornata, conhecido por sapo-untanha), o canto territorial (para demarcar que o território é seu) e os sinais de alerta (sons de advertência ouvidos por outros sapos que estão próximos).

O CANTO DOS ANFÍBIOS

QUAL A DIFERENÇA ENTRE SAPO, PERERECA E RÃ?

Sapo, rã e perereca são todos anuros, porém apresentam algumas diferenças entre si. Estes termos são usados apenas na linguagem popular, ou seja, não são válidos cientificamente.

 

Os sapos possuem pele rugosa e seca e têm um hábito predominantemente terrestre. Normalmente não possuem pernas traseiras tão longas e fortes para saltos, por isso seus saltos percorrem distâncias menores.

 

As rãs possuem pele lisa e úmida, são animais mais aquáticos, por isso algumas possuem membrana interdigital para facilitar a natação. Suas pernas traseiras são longas e musculosas, apropriadas para saltar e nadar eficientemente.

 

Pererecas possuem a pele lisa e úmida e apresentam ventosas nos dedos (discos digitais), o que permite a elas se aderirem a superfícies como árvores, paredes, etc. Suas pernas são longas e apropriadas para saltar. Esses animais geralmente apresentam hábito arborícola. No meio urbano, é comum encontrá-las em banheiros.

Perereca

Sapo

Atualmente, são catalogadas mais de 7352 espécies de anfíbios no mundo, sendo que 1026 ocorrem no nosso país. O Brasil é o país que possui maior biodiversidade de anfíbios do mundo, ou seja, que possui maior riqueza de espécies de anfíbios, seguido pela Colômbia e Equador.

 

A maioria dos anfíbios que ocorre aqui pertence à ordem Anura, com 988 espécies; há 33 espécies de cobras-cegas e somente cinco da ordem Caudata (que ocorrem na bacia Amazônica) registradas no país.

 

No Estado do Rio Grande do Sul há registro de 108 espécies, sendo 16 ameaçadas de extinção e uma exótica; há quatro espécies de cecílias catalogadas e 104 de anuros. Todos estes dados são do mês de fevereiro de 2015. Constantemente novas espécies são descritas.

QUANTAS ESPÉCIES EXISTEM?

AMEAÇAS AOS ANFÍBIOS

Os anfíbios são animais muito suscetíveis a alterações em seus ambientes, especialmente em relação à temperatura e à presença de água. Por estes motivos são considerados bons bioindicadores, ou indicadores biológicos, principalmente, da qualidade da água. Com o aumento da temperatura média do ambiente, os corpos d’água temporários utilizados por certas espécies podem secar mais rápido, antes de se completar o desenvolvimento dos girinos em adultos, impedindo o ciclo reprodutivo desses animais. Em outros locais, que sofrem aumento de temperatura, os animais podem literalmente secar, ficando desidratados.

 

Além disso, o grupo é muito vulnerável a ação de determinados fungos, que atualmente atingem em larga escala esses animais, causando um declínio nas populações de várias espécies. Qualquer substância ou ser vivo que altere ou impeça a respiração cutânea (as trocas gasosas que são feitas através da pele) pode ser letal para os anfíbios.

 

Hoje um terço das espécies de anfíbios conhecido no mundo todo está avaliado em algum grau de ameaça de extinção. Isso corresponde a mais de 2000 espécies sob risco de desaparecer.

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